Fala-se tanto atualmente sobre preconceito, sobre o direito dos negros, sobre cotas, sobre o lugar do afrodescendente na sociedade. E como “branca”, filha de negros, muitas vezes vivenciei o preconceito de perto e ainda assim cheguei a acreditar que ele não existe. Mesmo assistindo fatos acontecerem ao meu lado, com os meus.
Quando se diz que é desnecessário conversar sobre esses temas, muitos, inclusive negros apoiam esta ideia. Esquecem do passado horrendo, escrito com sangue, marcado na pele, não sabem da identidade que perderam, do sorriso e glória que lhes foram tirados. Dizer que o preconceito não existe é risível, esta enraizado em nossa mente, esta tão presente que não o percebemos.
Mais de 50% da população brasileira é composta por negros e onde eles estão? O papel do negro não é só do favelado ou do alpinista social, a mulata existe apenas no carnaval rede globo. Inclusive, não use esse termo! Ela é mulher, não objeto sexual e muito menos MULA, mulata.
Quando perguntam a uma mulher negra se é babá dos seus filhos de pele clara, existe um preconceito enraizado.
Quando em algum evento pensam que ela esta ali para servi, existe um preconceito enraizado.
Quando a família perfeita do comercial de margarina é sempre constituída por brancos, existe um preconceito enraizado.
Eles são maioria, consomem, mas não são representados. Tem uma história que foi apagada dos livros. Tem uma pátria que não é sua e que não os acolheu, os atura, os escondeu enquanto foi possível.
História e sofrimento que só ganharam um pouco da dimensão real, após eu ler o poema “Navio negreiro” de Castro Alves, na faculdade! Quantos por aí, como eu ignoraram e ignoram o sofrimento que causamos ao negro. A sociedade tem uma dívida com esses que depois de “libertos” foram jogados ou melhor “escondidos” em favelas, sem emprego, sem rumo, sem razão.
Agora se imagine tirado do seu lar, levado para outro país, sofrer torturar horríveis e trabalhar sem salário, ser “liberto” e jogado no mundo. O que lhe resta? A única coisa que sabe até então é servir. Vai procurar abrigo no quarto de empregada ou no quarto de vigia da construção. Não foi você quem escolheu. Para conseguir tirar seus filhos deste lugar requer suor e trabalho, eles vão sair, mas é mais difícil, as oportunidades não são as mesmas.
Enfim, um poema me levou a refletir tanto. Para alcançarmos a igualdade ainda existe um caminho a se percorrer. Pagar a dívida que o brasileiro tem com os afrodescendentes requer conscientização. Devemos discutir esses assuntos até entendermos que os anjos não tem pele clara e que existem princesas de todas as cores.
Espero ter mostrado um pouco do que esse poema mudou em mim e através dele todos os discursos que eu escutei anteriormente fizeram sentido. Vou deixa-lo abaixo para ele te iluminar também e virar pelo avesso a construção do sofrimento do negro que muitas vezes só conhecemos através das obras de Debret.
Até a próxima.